A minha heroína
Corria dantes entre alguns cristãos ter um pobre, um, pelo menos, em que a sua compaixão se pudesse derramar concretamente. Eu tenho uma heroína, é a D. Maria.
Morreu-lhe o marido eram os filhos ainda crianças, três. Não era um exemplo de bom companheiro, bebia de mais e gastava sem tino o dinheiro escasso mas há de o ter chorado, nunca vi mas sei que o chorou porque conheci bem alguém que lhe aconchegou as lágrimas, era o seu único homem; a quem dedicar agora os afetos mais íntimos?
Os filhos eram meninos. Exemplarmente honesta criou-os escorreitos e decentes, a trabalhar a dias. Já são crescidos, já é avó.
Via-a, vejo-a, sempre bem-disposta, a sorrir, pronta a rir com alegria.
Sempre prestável. Delicada traz-me filhoses no natal e convidava sempre o meu filho para almoçar quando fazia cosido à portuguesa, sabia que ele gosta.
Fica aqui nomeada a letras discretas a minha inspiradora heroína.